sábado, fevereiro 10, 2007

Clima em debate


Filme da semana:O Diabo veste Prada

Personagem fictício, mas baseado em milhões de pessoas por aí: Barreto, ou Barretão para os íntimos. Sorriso largo no rosto, manso no trato e com um arsenal de brincadeirinhas infames para todas as ocasiões. É o "verdadeiro" amigo de todo mundo, sempre com algo positivo para dizer, mesmo nas piores situações. Cargo verdadeiro: ignorado. Cargo que exerce: "Líder da Equipe de Crescimento Profissional" da empresa. A missão principal do grupo pode ser resumida numa frase curta e certeira: melhorar o clima no ambiente de trabalho. Na teoria o objetivo é de uma nobreza sem tamanho, mas na real o que acontece é exatamente o oposto - já que isso tudo resulta apenas em pirotecnia discursiva e ações nulas ou questionáveis. A verba, lógico, é mínima. Mas a meta é bonitinha e passa um ar claro de "estamos fazendo nossa parte por vocês". O resultado verdadeiro é zero, mas isso é mero detalhe. O principal: a chefia vai ao delírio quando fala da ECP (aos perdidos: "Equipe de Crescimento Profissional"). A chefia da chefia, então, baba quando fala das realizações do grupo.


O Barreto é quase uma estrela no trabalho. Passa a semana inteira andando de lá pra cá passando aquele ar de atarefado enquanto as pendências (do seu cargo verdadeiro) se acumulam em sua mesa. Organiza reuniões da ECP que tomam todo o horário útil de seus membros, e vive na sala da manda-chuva para colocar suas idéias mirabolantes em campo e ver se o feedback da patroa é positivo. Quando os dois concordam em algo, sei que vai sobrar para o resto da plebe.

A última idéia do amigão foi organizar grupos de estudo para matar um suposto problema na empresa: a insatisfação do pessoal - e isso é novidade?

Foram duas reuniões: primeiro, arrastaram todos para uma palestra de introdução ao problema (o que achei ótimo, pois antes dela ninguém entendia do que se tratava tudo isso). Numa segunda, já com o público interessado reduzido, separaram todos em pequenos grupos de trabalho e marcaram as datas para os debates - véspera de natal e véspera de ano-novo. E lá foram agradáveis quatro horas por dia, debatendo o... qual era o assunto mesmo?

As conclusões foram as óbvias: a insatisfação decorria da própria administração, que batia forte nos funcionários e passava por cima de todos sem dó, nem piedade. Horas-extras não remuneradas, falta de confiança, grosseria no trato com os subordinados, etc. Gente antiga e normalmente calma, que eu nunca havia visto antes levantar a voz contra os absurdos, se inflamou - até demais. E a galera mais nova acabou indo atrás. Foi quando alguém levantou a bola sobre o por quê destas reuniões ocorrerem fora do expediente.

Bem, antes ocorresse um levante popular, os grupos foram encerrados. Chegaram a alguma conclusão bizarra, cujo texto nos foi passado uma semana depois pelo e-mail - e nunca mais vi organizarem grupos do gênero.

Mas o Barretão continua firme e forte na ECP. Só não gosta mais de organizar grupos de trabalho com mais de dois funcis na mesma sala - quem sabe com a presença da polícia?

Fica a dica.
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